A L E I X O

Poderemos fazer algo pelo Bairro do Aleixo?    https://aleixo.taf.net/  -  bairrodoaleixo@gmail.com
Blog complementar de A Baixa do Porto - https://porto.taf.net/

Quarta-feira, Maio 18, 2005

O mal maior

Quanto mais analiso o problema de bairros como o do Aleixo e converso com as pessoas directamente envolvidas, mais me convenço de que o problema principal não é a droga nem a pobreza: é a dependência do Estado!

Quase ninguém se apercebe da verdadeira e dramática gravidade deste fenómeno. Na toxicodependência ou na pobreza quem delas sofre está perfeitamente consciente do seu mal, o que é um primeiro passo para o vencer. Ao contrário, quem se viciou (o termo é mesmo este) no apoio do Estado raramente percebe que entrou numa espiral de degradação pessoal e social.

Vamos ser claros: viver em habitação social (subsidiada pelo Estado, portanto) não pode ser considerado “normal”. Quem está numa situação de dificuldades financeiras pensa habitualmente: “tenho direito a uma casa da Câmara”. Pensa mal. Devia pensar: “tenho direito a que me proporcionem as condições para que, fruto do meu trabalho, não precise de uma casa da Câmara”.

A habitação social deverá ser sempre:
- uma solução transitória para ultrapassar dificuldades financeiras pontuais de cidadãos activos;
- ou uma solução de recurso para quem, tendo idade avançada ou alguma incapacidade grave, não tem outra alternativa.

Mais: “habitação social” não tem que ser segregar pessoas em bairros específicos. Faz muito mais sentido subsidiar rendas em “habitação normal” perfeitamente integrada na sociedade. Isto não é uma ideia nova, evidentemente. Por que é que não é aplicada?

Qualquer plano de recuperação do Bairro do Aleixo deverá por isso dar prioridade máxima à criação de condições para que os seus habitantes possam recorrer ao mercado de arrendamento ou aquisição normal, deixando de ter a Câmara como senhorio (que aliás tanto detestam!). Estou profundamente convencido de que é a única maneira de conseguir resultados sólidos. Mas leva tempo.

Entretanto, há outras medidas que se podem tomar – fica para um comentário mais tarde. Digo desde já apenas que acho inaceitável tratar as pessoas “em manada”: cada caso é um caso. Não é legítimo pensar em “uma solução para o Bairro do Aleixo”. Pelo contrário, temos é de procurar soluções individuais adequadas (e provavelmente diferentes entre si).

Segunda-feira, Maio 16, 2005

O Aleixo no JN

Aleixo: Um inferno com vista de postal - o destaque do JN de hoje - ver outros textos com apontadores nesta página.

Sexta-feira, Maio 13, 2005

Organizemo-nos

No seguimento de vários contactos que tenho recebido, e para podermos iniciar o nosso trabalho em rede para análise do que pode ser feito para ajudar a resolver o problema que nos propusémos, venho sugerir que nos organizemos da seguinte forma:

O trabalho a desenvolver implica a coordenação de diferentes áreas. As mais prementes são:
- definição da situação actual, com a caracterização social e económica completa
- a identificação do trabalho que já foi desenvolvido por diferentes entidades
- a caracterização do tipo de apoios sociais ao realojamento e reinserção

Esse trabalho deve ser coordenado por quem estiver disponível para colaborar connosco. Os coordenadores serão também editores, comigo e com o Tiago, do que for publicado aqui neste blogue de acção.

Para além do trabalho de coordenação, serão necessários dois outros tipos de participação:
- Levantamento e pesquisa de informação
- Contacto por e-mail com entidades oficiais e privadas que tenham colaborado ou possam colaborar

Por último, mas não menos importante, é preciso que comecem a emitir as vossas opiniões, críticas e sugestões.

Peço a todos os que já manifestaram disponibilidade para colaborar, bem como aos que ainda estão a ler isto a ver no que vai dar, que comecem a fazer-nos chegar, através do nosso e-mail bairrodoaleixo@gmail.com, quais os campos em que preferem ajudar, bem como o nível de empenhamento que estão disponíveis para assumir.

Francisco Rocha Antunes

Terça-feira, Maio 10, 2005

Cristina Santos : Escolas no Centro do Bairro


Uma escola, uma instituição, um ATL, um infantário, no meio de um ambiente como o do Bairro do Aleixo, pode cumprir os seus propósitos de forma independente?

Imaginemos que num condomínio fechado, criávamos uma escola para os residentes, esta escola não passaria a estar sujeita à influência directa dos moradores, não seria uma escola diferenciada, sujeita ao controle diário das condicionantes em torno?

Os moradores dos Bairros Sociais beneficiam na maioria de Escolas integradas, de instituições e Atl, localizados, isto porque se tentou de alguma forma proporcionar um serviço educativo, que se não existisse no Bairro não seria procurado pelas famílias, mesmo que frequentar a escola seja obrigatório.
O que aconteceu é que as Instituições se moldaram às condicionantes, os Bairros concentram um poder atípico, que nem as sociedades mais avançadas conseguem romper.

Uma escola num centro de um Bairro presta serviços mínimos, tem um ensino completamente diferente em termos sociais que o resto das escolas da Cidade.
Recordo alguns casos em que alunos do ensino básico, perpetuavam ameaças aos professores, que eram asseguradas pelos pais dessas crianças, qualquer chamada de atenção aos meninos na Escola era entendida pelos pais como uma afronta, essa afronta era em geral vencida pela violência e coação directa aos leccionadores e técnicos.

Num Bairro as normas são diferentes, as escolas leccionam de forma descoincidente e nem sequer podem contar com a segurança que qualquer estabelecimento de ensino carece, as famílias empenhadas na educação dos seus educandos sofrem as consequências , por estarem em minoria.

Portanto como primeira medida de tentativa de socialização dos habitantes, que nem sempre são vítimas da sociedade, proponho que o ensino básico seja deslocalizado para outras Escolas publicas nas imediações, esta seria a primeira forma educacional que proporcionávamos aos futuros jovens.

Não me atrevo a sugerir a deslocalização do ensino pré-escolar, pois pressuponho que não seria encarado como necessário pela maioria dos residentes, mas quanto ao ensino Básico penso que essa medida é urgente e seria o primeiro passo no ensino de regras aos mais pequenos.

Não ponho aqui em causa a qualidade dos professores das escolas dos Bairros da Cidade, mas há que ser realista e ver que a sua atitude ou tentativa de ensinar regras sociais, neste caso não tem qualquer força.


Cristina Santos

Segunda-feira, Maio 09, 2005

de pessoas para pessoas

O problema do Aleixo é, acima de tudo, um problema de pessoas. De 320 familías, para ser mais concreto. Que foram levadas para ali, em circunstâncias históricas conhecidas, e ali foram deixadas. O que temos hoje é um problema agudo que não pode continuar eternamente.

É sempre de pessoas que estamos a falar. Qualquer abordagem do problema tem de ter isso como elemento central. E qualquer solução que não resolva os problemas dessas pessoas, nunca todos mas os mais importantes, não é viável.

O que proponho que se faça é um diagnóstico da situação actual e caminhos de solução do problema.

A situação actual é a de uma concentração excessiva de famílias de baixos rendimentos e com fracas possibilidades de, sózinhas, conseguirem mudar a sua condição. O peso que essa concentração excessiva representa para cada uma delas é a principal razão que aponta como estratégia base de resolução do problema encontrar caminhos de dispersão dessas famílias. O simples facto de estarem todas juntas naquelas circunstâncias é o maior problema.

O caminho é ver como essa dispersão pode ser feita, de acordo com as preferências e necessidades de cada uma das famílias, e ver se é possível afectar recursos para que essa dispersão se faça.

Este parece-me ser um possível ponto de partida: identificar a situação actual, o mais descritivamente possível sem afectar a privacidade a que todos têm direito, e ver quais as soluções de dispersão que são possíveis.

Como será regra neste espaço, esta primeira ideia é para ser apoiada, criticada, desmontada, suportada e depois vê-se o que resta dela.

Peço que o façam como parte de um processo aberto e honesto de discussão. Eu tudo farei para aproveitar o que se disser e, claro, voltar ao mesmo com o ritmo que for necessário. Reformulando e propondo mais caminho.

A primeira necessidade é a de identificar tudo o que já foi diagnosticado. E trazer para aqui.

Porquê intervir

Esta vontade de intervir num problema concreto e difícil resulta quer de ter percebido que os blogues podem ser uma ferramenta de trabalho em rede particularmente eficiente na mobilização de pessoas muito diferentes quer da convicção de que se pode utilizar essa capacidade de trabalho em rede de forma útil para a comunidade na resolução de problemas que ninguém quer assumir.
Conheço bem os limites do voluntarismo, mas reconheço também a enorme energia que existe em muitos para participar em alguma coisa de concreto que permita o exercício da cidadania para além da opinião, evitando cair num diletantismo que, embora legítimo e saboroso, poderia ser um dos nomes da blogosfera nacional.
A capacidade de mobilizar essa energia é o meu desafio. A possibilidade de se estudar e propôr caminhos de solução para um problema da dimensão do Aleixo é a razão para os que estiverem disponíveis se envolverem neste assunto.
Ao fim do dia de hoje proporei as regras, os métodos de trabalho e as metas para este esforço. Não tenho ilusões sobre a dimensão desta nossa pretensão. Mas acho que os resultados de um processo de trabalho em rede podem, mais uma vez, surpreender todos. Tenho muitos anos de experiência profissional em projectos que demoram sempre muito a serem concretizados, o que implica sempre uma persistência grande. Mas também já sei que não há outra forma de resolver problemas complexos como este.
Eu acredito que se consegue. E vou fazer para que outros acreditem, o primeiro passo para que uma ou mais soluções exequíveis apareçam.

Domingo, Maio 08, 2005

Conseguiremos?

Seguindo uma sugestão de Francisco Rocha Antunes n'A Baixa do Porto, eis um "blog de acção" para tentar fazer algo pelo Bairro do Aleixo. Conseguiremos? Depende principalmente de nós.
TAF

PS: Ainda é tudo provisório, mas está funcional. Pode-se mudar o que for preciso mais tarde sem perder o que entretanto for publicado. As regras de funcionamento são diferentes das d'A Baixa do Porto. Há vários membros do blog e um sistema de aceitação de comentários que pode ser livremente utilizado por qualquer visitante, bastando para isso fazer o seu registo no Blogger. As instruções são fornecidas no próprio processo de envio do comentário.

Quem quiser submeter a sua opinião sob a forma de post, e não apenas de comentário, deverá enviar o seu texto para bairrodoaleixo@gmail.com, num processo em tudo idêntico ao que se usa n'A Baixa do Porto.